Cinco Lições de Vida, por Ministro Barroso
Olá galera, hoje
estou aqui para compartilhar com vocês, um texto muito pertinente, uma
"lição de vida" que foi escrita por nada mais nada menos que o
Excelentíssimo Ministro Barroso que é Patrono da turma de 2014 da faculdade de
Direito da UERJ.
O texto chegou a meu
conhecimento, quando o nosso querido professor de Constitucional, teve a
bondade de nos ler tal regras.
Hoje estarei deixando
a introdução e a lição N°1 para vocês!
Introdução
Eu poderia gastar um
longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao meu espírito ao
ser escolhido patrono de uma turma extraordinária como a de vocês. Mas nós
somos – vocês e eu – militantes da revolução da brevidade. Acreditamos na
utopia de que em algum lugar do futuro juristas falarão menos, escreverão menos
e não serão tão apaixonados pela própria voz.
Por isso, em lugar de
muitas palavras, basta que vejam o brilho dos meus olhos e sintam a emoção
genuína da minha voz. E ninguém terá dúvida da felicidade imensa que me
proporcionaram. Celebramos esta noite, nessa despedida provisória, o pacto que
unirá nossas vidas para sempre, selado pelos valores que compartilhamos.
É lugar comum
dizer-se que a vida vem sem manual de instruções. Porém, não resisti à tentação
– mais que isso, à ilimitada pretensão – de sanar essa omissão. Relevem a
insensatez. Ela é fruto do meu afeto. Por certo, ninguém vive a vida dos
outros. Cada um descobre, ao longo do caminho, as suas próprias verdades. Vai
aqui, ainda assim, no curto espaço de tempo que me impus, um guia breve com
ideias essenciais ligadas à vida e ao Direito.
I. LIÇÃO Nº 1
I. LIÇÃO Nº 1
No nosso primeiro dia
de aula eu lhes narrei o multicitado "caso do arremesso de anão".
Como se lembrarão, em uma localidade próxima a Paris, uma casa noturna
realizava um evento, um torneio no qual os participantes procuravam atirar um
anão, um deficiente físico de baixa altura, à maior distância possível. O
vencedor levava o grande prêmio da noite. Compreensivelmente horrorizado com a
prática, o Prefeito Municipal interditou a atividade.
Após recursos, idas e
vindas, o Conselho de Estado francês confirmou a proibição. Na ocasião, dizia-lhes
eu, o Conselho afirmou que se aquele pobre homem abria mão de sua dignidade
humana, deixando-se arremessar como se fora um objeto e não um sujeito de
direitos, cabia ao Estado intervir para restabelecer a sua dignidade perdida.
Em meio ao assentimento geral, eu observava que a história não havia terminado
ainda.
E em seguida, contava
que o anão recorrera em todas as instâncias possíveis, chegando até mesmo à
Comissão de Direitos Humanos da ONU, procurando reverter a proibição.
Sustentava ele que não se sentia – o trocadilho é inevitável – diminuído com
aquela prática. Pelo contrário.
Pela primeira vez em
toda a sua vida ele se sentia realizado. Tinha um emprego, amigos, ganhava
salário e gorjetas, e nunca fora tão feliz. A decisão do Conselho o obrigava a
voltar para o mundo onde vivia esquecido e invisível.
Após eu narrar a
segunda parte da história, todos nos sentíamos divididos em relação a qual
seria a solução correta. E ali, naquele primeiro encontro, nós estabelecemos
que para quem escolhia viver no mundo do Direito esta era a regra nº 1: "nunca forme uma opinião sem antes ouvir os
dois lados".